Iluminismo - 2 de 2

Os inúmeros pensadores iluministas espalhados por toda a Europa escreveram inúmeros livros defendendo a suas ideais, muitas delas, é verdade, se contrapunham. Contudo, a grande síntese do espírito do Iluminismo foi materializada na grande Enciclopédia dirigida por Diderot e D’Alambert, que compreendia 35 volumes e levou quase 30 anos para ser publicada, ao decorrer da segunda metade do século XVIII (com a contribuição de inúmeros pensadores iluministas). A Enciclopédia tinha a pretensão de sistematizar todo a conhecimento humano, uma verdadeira audácia. Mais que uma obra, a Enciclopédia é um grande elogio a razão, à capacidade humana, ao conhecimento, ao otimismo em relação ao progresso desse conhecimento, dos homens e da sociedade como um todo.

Vamos analisar a seguir alguns dos principais pensadores considerados iluministas e as suas principais contribuições:

Rousseau – Em sua obra “Do contrato social” Rousseau estabeleceu os princípios da democracia moderna. Em sua obra defende que os homens através de um pacto se organizam numa comunidade política, e que essa comunidade deve ser, portanto, a expressão da vontade geral. O povo é soberano e é a sua vontade de deve prevalecer; se isso não acontecer, o povo não apenas pode, mas deve substituí-lo.

Apesar de ser considerado um iluminista Rousseau escreveu uma obra chamada “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, onde defendia que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Para Rousseau, nos primórdios na existência humana os homens viviam de forma “natural” e tinham poucas necessidades, que facilmente eram satisfeitas. Esse foi à época de ouro para os seres humanos, em que não havia desigualdade entre os homens, que viviam em paz e com liberdade. Contudo, o estabelecimento da propriedade privada teria tornado os homens gananciosos mesquinhos, avarentos, invejosos. A desigualdade entre os homens foi estabelecida, portanto com a propriedade privada, quando o primeiro homem teve a audácia de cercar determinado local e disser-se-se dono de tudo. Nesse sentido, apesar de ser considerado um iluminista, Rousseau criticava o iluminismo e as conquistas da civilização e dizia que os homens se aperfeiçoam somente para o mal.

Voltaire – Um dos principais pensadores do iluminismo Voltaire ficou conhecida pela escrita bem-humorada e afiada e pelas inúmeras e contundentes críticas aos reis absolutistas, em especial na França. Em uma palavra Voltaire defendia o liberalismo, seja ele econômico, político, ou religioso. Um exemplo da postura de Voltaire pode ser apreendida em uma das mais famosas expressões a respeito da liberdade de expressão em todos os tempos: “Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Voltaire, ao contrário de Rousseau defendia o progresso das ciências e dar artes e o avanço da suposta civilização européia. Os dois grandes pensadores do iluminismo, que eram contemporâneos chegaram a travar discussões; numa delas, em tom provocativo, Voltaire convidou Rousseau a seguir os conselhos de seu livro, e retornar ao estado natural. Para tanto Voltaire oferecia inclusive suas propriedades, onde Rousseau poderia ruminar com companhia de seus bois.

Montesquieu – O francês Montesquieu é responsável pela teorização a respeito da famosa divisão dos três poderes. Para ele a concentração do poder na mão de uma única pessoa proporcionará inevitavelmente o abuso de poder. Assim, o correto seria dividir esses poderes em parcelas, que seriam o poder Executivo (para administrar o país e executar as leis), o Legislativo (elaborar e aprovar leis) e o Judiciário (fiscalizar o cumprimento das leis e julgar os casos de conflito). A autonomia dos três poderes, segundo Montesquieu garantiria o bom funcionamento da sociedade, num processo de fiscalização mútua.

Da mesma forma que no campo político e religioso, no campo econômico o iluminismo exerceu grande influência, questionando incisivamente as chamadas práticas mercantilistas do estado absolutista, onde a economia era gerida pela monarquia, inclusive através de inúmeros monopólios, prevalecimento de determinadas companhias e acumulação de capitais. O que os iluministas queriam era exatamente a liberdade no campo econômico, ou seja, a não interferência da monarquia na economia, uma vez que acreditavam que existiam leis naturais responsáveis pela regulação das atividades econômicas. Defendiam, pois:

A liberdade de mercado,
A livre concorrência,
A liberdade na estipulação dos contratos entre o capital (empregador) e o trabalhador, sem levar em conta as antigas corporações de ofício, que procuravam proteger os trabalhadores de determinado segmento (por exemplo, sapateiros).

Os primeiros pensadores que atuavam no campo da economia e passaram a questionar o mercantilismo defendendo a idéia da auto-regulação das atividades econômicas ficaram conhecidos como fisiocratas. A palavra fisiocracia da deriva do grego, que significa algo como “governo da natureza”. Realmente os fisiocratas acreditavam que todas as fontes de riqueza provinham da terra, sejam elas as atividades agrícolas ou mineradoras. E as indústrias e o comércio? Para os fisiocratas, diziam respeito a atividades complementares, mas que não geravam riquezas uma vez que a indústria transforma a matéria-prima e a comercio proporciona a circulação da mercadoria.

Na trilha dos fisiocratas surgiria um dos grandes economistas do século XVIII, Adam Smith. Em 1776 Smith publicou o seu mais famoso livro “A riqueza das nações”, onde tal quais os fisiocratas criticava o mercantilismo, mas ao contrário deles, defendia a idéia de que não era a terra a principal fonte de riqueza, mas sim, o trabalho.

Assim, para Adam Smith o trabalho seria responsável pela geração de riqueza. Mas esse trabalho deveria obedecer à regra da especialização, ou seja, cada um executando uma etapa da produção da mercadoria. Executando apenas uma operação esse trabalhador adquiriria destreza nessa operação, levando à redução do tempo para a produção da mercadoria, e consequentemente ao aumento da produtividade. Maior produtividade significa lucro maior.

O iluminismo contrubuiu para a posterior disseminação de panfletos que desacralizavam a imagem da monarquia. Abaixo uma ilustração que criticava os penteados espalhafatosos da rainha Maria Antonieta.

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