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De artesãos a trabalhadores assalariados

 A partir do século XI e XII a sociedade medieval européia sofreu profundas transformações. Inúmeras pessoas passaram a sair do campo e migrar para as cidades, então chamadas de burgos, para exercer atividades não ligadas à agricultura, ou seja, ofícios como o de sapateiro, padeiro, fabricante de moveis, etc. Não existia ainda a divisão técnica do trabalho, isto é, o artesão era responsável por toda a fabricação da mercadoria, tinha acesso à matéria-prima, às ferramentas para executar o trabalho e era dono do resultado de seu trabalho. Muitos mestres artesãos poderiam ter um ou mais ajudantes, que trabalhavam até conseguirem abrir a sua própria oficina, e se caso não conseguissem, poderiam continuar trabalhando para o mestre artesão como jornaleiros.

Surgiram nessa época às chamadas Corporações de Ofício, que nada mais era que corporações que uniam operários qualificados que exerciam uma mesmo função, com o objetivo de se defenderem e de negociarem de forma mais eficiente. Para fazer parte de uma corporação de ofício, uma pessoa poderia se ocupar de apenas um ofício, caso contrário, seria impedido de exercer a sua atividade, além de correr o risco de ser expulso da cidade. Dentro das corporações existiam regulamentos específicos quanto à hierarquia, formação e treinamento, carga horária de trabalho, salários e preços dos produtos. Participando das corporações os artesãos se protegiam da concorrência das outras cidades.


A partir do século XV teremos importantes alterações em relação ao trabalho. Trata-se de um momento de importantes modificações políticas, culturas e econômicas. Nesse período temos a centralização do poder nas mãos dos reis, que aos poucos vão subjugando os senhores feudais. O Renascimento, com o seu ideal humanista vai alterar drasticamente a visão do homem, que passa a ser valorizado em sua individualidade e capacidade infinitas de criação. O trabalho passa a ser visto como uma forma de demonstração de toda capacidade de racionalidade e criação dos seres humanos. É a época dos grandes mestres como Michelangelo e Leonardo Da Vinci, grandes gênios da pintura, esse último atuando em diversas áreas do conhecimento humano. Com o ideal humanista o trabalho assume uma nova perspectiva, e passa a ser valorizado como expressão da inventividade humana.


Com a expansão das atividades comerciais, tanto em relação ao Oriente, e com o movimento das Grandes Navegações em direção à América houve um incremento das atividades comerciais. Esses desenvolvimentos do comércio e das atividades manufatureiras deram origem a uma nova estrutura social: a sociedade capitalista.


As Reformas Religiosas, especialmente o Calvinismo irá endossar as práticas capitalistas através da idéia da predestinação. Durante séculos os católicos condenaram a “usura”, ou lucro desproporcional, tratando-o como um pecado. O calvinismo vai alterar essa imagem em relação à acumulação de capitais, na medida em que a doutrina da predestinação defende que alguns homens são escolhidos para serem salvos por Deus, e que a acumulação de capitais pode ser interpretada como um dos sinais de que você é um predestinado, ou seja, que foi escolhido por Deus. Trata-se de uma nova perspectiva em relação ao trabalho, disciplina em relação à sociedade pautada no “esbanjamento” e uma positividade em se tratando do acúmulo de dinheiro.


Com a necessidade da produção de excedentes para a troca com os mercados externos os comerciantes capitalistas começaram a fazer a intermediação entre os artesãos (fornecendo matérias-primas e muitas vezes ferramentas de trabalho) e os compradores, controlando desta maneira a comercialização dos produtos.


A introdução da figura do comerciante capitalista desestruturou as corporações de ofícios, e tornou os artesãos dependentes do fornecimento de matérias-primas. Foi-lhes negado o acesso ao mercado e à comercialização de seus produtos, sendo transformados em trabalhadores tarefeiros assalariados.


Aquele artesão, que na manufatura medieval detinha as ferramentas e uma autonomia no uso de seu tempo, desaparece, submetendo se ao capital. Ocorre, portanto, a separação entre o trabalhador e a propriedade dos meios de produção (capital, ferramentas, máquinas, matérias primas, terras). Desse modo, podemos afirmar que a essência do sistema capitalista encontra se na separação entre o capital e o trabalho.


O crescimento do mercado não só irá transformar o artesão em trabalhador assalariado, como fará renascer a escravidão: o trabalho compulsório de africanos nas colônias da América.


Temos que destacar que para as elites que comandavam a implantação do sistema capitalista o trabalho livre era a forma ideal. Essa é por excelência a concepção burguesa da liberdade individual do homem: ele e livre para usar a força de seu corpo como uma maquina natural e para escolher de forma soberana o que deseja para si mesmo. Contudo, se ao escravo na América não era dada a oportunidade da escolha, ao trabalhador europeu era concedido o direito soberano da liberdade.


Obra característica do Renascimento, Michelangelo coloca os homens em uma nova relação com Deus, dando vazão a sua racionalidade, inventividade e capacidade de criação.

Abaixo representações medievais entre mestres e aprendizes durante a Idade Média.


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